domingo, 4 de dezembro de 2011

“O fracasso me subiu à cabeça.”



O   P A T I N H O   F E I O.
 (Depoimento de um ex-independente químico,  (en)rolou química!) “Olá, meu nome não é pelo que vocês chamarão quando ouvi-lo. E minha imagem aparecerá em mosaicos nos canais de interferência (ou) com ausência de sinal. Ao prazo de domingo, essa cadeira estará à disposição da desintoxicação de um cú químico, se até lá suas cápsulas de Cocaína não estourarem antes de completar nove meses. Não, não! Sentem-se até que eu termine! Ou recusará o pedido de ninguém, quem? (RISOS.) Minha clientela está desperdiçando meu salário em prol de encurtar o avanço da AIDS, e meu último grafite foi apanhado pelo também preliminar freguês camuflado, de farda camuflada. Eu aplaudi cada resquício de porra que vocês engoliram para parir suas drogas, e a acusação vã da culpa ser delas. Mas deixe-me explicá-los de que ‘drogas’, meus irmãos, é apenas um apelido irônico para que a Vida não apreenda a nossa, cuja vocês aprenderam em palestra de como encurtar com fita métrica, embora saibam hoje menos a diferença entre intestino e ventre. Ora, não é portanto pedir mais do que já estão domesticados a exercer despidos que sejam, então, o testamento de discurso pelo banheiro público, sem gorgolejar a descarga por cada intervalo de abstinência pulmonar que venha eu; a ter. É que estou doente. Muito, muito doente. Eu estou com medo de por um dia ser sortudo quando a sorte por si só seria azar. Eu estou com medo da dose pouca, da hemorragia estancada, do sobrado de grana, da aprovação desaprovada. Eu estou com medo de errar no erro decisivo, do bom dia correspondido, das sirenes fracassarem. Eu estou com medo da bondade pecar ao me salvar. Eu estou com medo é de Deus me perdoar. De segunda tornar o respirar de alívio, suspiros. Eu sinto ódio do oxigênio por propor ‘se’ e ‘tal’ para o acidente ser proposital.  E eu doei por mais da conta sangue, no banco preventivo do impulso pela intervenção do seu pulso: e posso garantir que ele está congestionado tanto quanto minhas veias e septo. (RISOS.) Que dê tudo bem, meus irmãos filhos da puta, tal qual ‘iniciante’ virgindade ter. Mas, enquanto tivermos a Heroína heroína para enfim, as ruínas arruinar, drogas em ‘droga’ jamais dará. (RISOS & APLAUSOS.)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Responda ao enigma assim que puder ao soar de Notre-Dame: “Quem é o monstro e o homem quem é?”

Dobram os sinos, Paris despertou ao soar de Notre-Dame.
Já tem peixe fresco, o pão já assou ao soar de Notre-Dame.
Sinos grandes com sons trovejantes, e pequenos com sons de oração. Paris, são divinos os sons de seus sinos! Os sons... Os sons de Notre-Dame.
— Ouçam! São lindos, não?
São tantos sons coloridos, tantas mudanças de timbre! Porque vocês sabem, eles não tocam sozinhos.
— Ah, não?
— Não, bobinho. Lá em cima, lá, lá no alto no campanário vive o sineiro misterioso.
— Quem é essa criatura?
— Quem é?
— O que é ele?
— O quê?
— Como ele foi parar lá?
— Como?
— Quieto! Clopin vai lhes contar. É uma história... A história de um homem e um monstro.
Tudo começa na escuridão sob o cais em Notre-Dame.
— Faça ele se calar! Vão nos descobrir!
— Quieto, meu amor.
Quatro ciganos em forte tensão sob o cais em Notre-Dame.
— Paguem e entrarão à salvo em Paris.
Mas alguém emboscou os ciganos, que tremeram ao ver esse alguém; cuja alma é dura qual bronze que apura os sons...
— Juiz Cláudio Frollo!
Os sons de Notre Dame...
Frollo, o juiz, mandou varrer o mal dali.
Ele viu pecado em cada ser, exceto em si.
— Levem essa gentalha cigana para o Palácio de Justiça.
— Você! O que esconde?
— Coisas roubadas, sem dúvida.
— Tirem dela.
Ela fugiu.
— Santuário! Por favor, dêem asilo!
— Um bebê?
— Ahh, um monstro!
— Pare! 
Gritou o arcediago.
— É uma alma profana. Vou mandá-la de volta ao lnferno, que é o seu lugar.
— Sangue inocente você derramou nos degraus de Notre-Dame.
— Ela fugiu. Fui atrás. Não sou culpado.
— Das mãos da mãe a criança tomou nos degraus de Notre-Dame.
— Tenho a consciência limpa.
— Você pode até iludir-se, que não vai ter remorso amanhã. Mas não vai conseguir desviar nem fugir desse olhar... Profundo olhar de Notre-Dame...
Apesar de Frollo ter nas mãos poder total, tal visão o fez tremer aos pés da catedral.
— E o que eu faço?
— Cuide da criança e crie como se fosse sua.
— O quê? Eu devo cuidar deste traste? Está bem, mas que ele more com você na sua igreja.
— Morar aqui? Onde?
— Qualquer lugar. Que ele fique num lugar bem afastado assim... No campanário talvez, e quem sabe Deus escreve certo por linhas tortas. E talvez tal criatura possa um dia, enfim, servir a mim.
E Frollo deu um nome cruel à criança, um nome que significa “meio-formado”: QUASÍMODO.
Responda ao enigma assim que puder ao soar de Notre-Dame: “Quem é o monstro e o homem quem é?”
Dizem os sons, sons, sons, sons, sons, sons, sons, sons, sons de Notre-Dame...


O mal acabado; não acabou.
“Quem sabe saibam agora vocês o por que do monstro gostar do escuro, puxando a barra do vestido da mamãe adotiva, pelo seu logo “amém”. Quase desconfiem vocês do por que de cada terço de oração da oração vir a ser tão fácil de decorar, quando suas horas sãos são, aliada da ameaça da mamãe acionar o interceptor da luz. Foi ela. Mamãe deu à luz ao ter-nos, a quem do escuro a vaidade convém, precedente do “amém”. É preciso ser um monstro para gerar um amigo imaginário. Sua piedade do aleijão é o que te faz sentir-se melhor, como embaixo da cama ao bater da porta e riscar do assoalho, é você quem lhe faz. E só ali, o quase não escapa de si; venha brincar.”



Porque vocês sabem, eles não tocam sozinhos.
...
Quasímodo. Formado de meios. O homem e o monstro. A acentuação nas costas do “e”; O HOMEM É O MONSTRO.

domingo, 16 de outubro de 2011

Os anjos são os primeiros a falhar.



Ah, lê quantos desastres há em minha mão?
 Vai passar, meu grande amor. O trigo logo, logo, será massinha de pãezinhos no vão de seus dedos de andorinha, que como bem sei, não suportarão até que fiquem prontos no forno para queimar a língua, e assim saboreá-los tanto quanto trigo cru ao céu da boca o clamaria de realeza. Vai passar, meu grande amor. Logo, logo, os canários migraram para o sul, os agasalhos para seu corpo, seu corpo para os armários, os armários para além da realidade, e então eu para junto de ti. Vai passar, meu grande amor. Logo, logo, o inverno será primavera, a esperança acordará bocejante para re-pendurar os terços nas cabeceiras, e suas jubilosas placas receptivas nas portas dos fundos. Vai passar, meu grande amor. O sofá descansará as noites, e os relógios de pulso não completarão seus 360º.  Anúncios serão apenas procura-se por mãos-de-obra, e você vai me encontrar. Vai passar, meu grande amor. Não mais precisarás pintar minhas unhas para conter ao que arranha-me no avesso, quando espelhos não temerão refletir; graças as nossas pálpebras (tirai os prendedores do nariz!) leiloadas aos santos, por caridade da esperança que esgota nossos bolsos. E já devemos tanto para aquele olhar de divindade, que uma cruz ao nosso nome é o que nos resta deixar nas gavetas de paletó; da caixinha em sempre dificuldades melhores que as nossas muitas. Seremos então humildes, mas justos não. Justiça é pecado! Na guerra, quem enche as taças de vinho até a margem, são os ternos. E ainda não sabemos se temos pais, apenas país. Vai passar, meu grande amor. O sino da igreja não mais será o hino da nação, gravatas apenas serão o luto, o nosso Mein Kampf , e o açougue não mais distribuirá nós em fatias aos porcos. (HUMANO ADULTO: 35 litros de água, 20kg de carboidratos, 4 litros de amônia, 7,5kg de cálcio... 800gr de adenosina, 250gr de sal, 100gr de nitrogênio. Verifique a validade. Por favor, guardar o recibo da garantia. Ao consumir o produto, não aceitamos devoluções, tampouco por favor, por favor.) Vai passar, meu grande amor. Crianças não precisarão andar de mãos dadas com a mamãe para recordarem-se de suas varandas, e nós poderemos andar de mãos dadas. O ronco de aviões serão vozes de garotinhos emprestadas às suas pipas. Os cupins finalmente deixarão nossa árvore familiar. Fogos serão por comemorações. As pontas de nossos dedos voltaram, e a ser vermelhas, e céu ao seu azul. O seu azul. De água doce. De oxigenação do seu; de todo céu que é céu seu. Palavras difíceis de notícias pesarosamente difíceis serão banidas, e logo, será fácil rememorar as letras de nossas músicas prediletas, também de quase acreditar em mim. Lembre-se de me convencer, assim que conseguir.

 Passará, meu grande amor. Como o nosso verbo no futuro. Como o nosso passará, passou. Passou, como o vagão do trem. A luz no fim do túnel, do trilho, que imploramos que passasse: que passasse por cima de nós.
 Passou. 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A Psicografia & O Psicógrafo.



Meu querido,

 Eu venho tendo posse da nossa eternidade prometida, e logo digo que sou menos imortal por isso. Por onde andas, meu amado? O meu Sol nascerá no Oeste? ‘Tão boas notícias suas são, já que minhas nunca chegam? Até mesmo quando dúvidas parecem não ter fim, se terminam em pontos tortos. Ou seriam barrigudos? Ou lamparinas de idéias? Veja só, e o quanto não vejo! Tenho tempo de sobra para imaginar como bem prefiro minha dor! Embora isto nunca a faça faltar... Caracterizei-me de ocasião especial, até que os horizontes batam enfim, a porta amanhecida aberta. (A campainha de modo algum traz companhia, mas as levam.) À espera de ti, enfeito-me dentro de estréias do meu eu seu predileto. Do meu melhor nos armários, que começaram a se tornar sufocantes. E você acreditaria se eu lhe cochichasse que, da janela, o nosso abençoado carteiro me confunde com quadros de outros séculos, enquanto eu descubro das cortinas que um mês a cada dois, ele enseba os cabelos de gel para ser fotografia? Ele possui um nome, e não sai de cena como que achávamos após descer nossa estradinha de terra e deixar-lhe salvo em varanda, carimbado de cera, selos e envelopes-creme, para ouvir-se em meu tom e inovar-me de velhas preces. O carteiro faz bico em cada história, mas a sua é tão “de: eles” “para: outros”...
 É que tive a indiferença dos ponteiros para apontar-me que quando você é um entregador de cartas, nenhuma se pode abrir. E que, quando você tem muito tempo para viver, meu bem, acaba sendo um fantasma a assombrar a graça do pouco de alguém. Tu me prometeras o Sol praiano, o sal dos sete oceanos; mas em nosso mundo seguro das guerras, protegida nele por sete chaves e de ti, vislumbro-me em uma gaveta a sete palmos de carta alguma alcançar, sem que desmanche-se nas lágrimas do mar. Sua pequenina pérola, tu protegeste da proteção. E o espaço que ficaste entre estratégias e planos, o vazio dela pontuou, corrigiu. E mesmo em nossa sobrevivente linha pontilhada, feita a giz, “Sim, Senhor!” ainda quer dizer para nós, que o ímpar “sobreviver” não diz “sobre viver”.

De sua amada, para o todo pouco do sempre.

“Estranho, prazer em conhecê-lo.” “O prazer é todo meu.”

Quanto mais o sótão de você conhece, mais de estranho se parece.
Eu deveria ter levado a porra d’uma lanterna.
Eu não deveria ter levado uma lanterna.

Sanatório St. Andrews. Palavra legal, não? Sanatório. Nada parecido com a realidade daquela pocilga. Fui vê-lo antes que o demolissem no fim dos anos 70. Ainda fedia a mijo e desinfetante de pinho. Corredores compridos e mal iluminados com quartos pequenos, parecidos com celas, nas laterais. Se você estivesse procurando o inferno e encontrasse St. Andrews, não ficaria decepcionado.”

 O estranho observa ao longe as boas meninas pularem corda, – lambuzadas de batom barato da mamãe –, “doze, treze, quatorze... Três, dois, um... Sua vez”, quiçá por descoberta da cor de suas calcinhas... Sabe-se lá que como jornal e suas notícias ruins, ele inspirava-se de “ABC”. Ele está lá no desvio cinzento, com seus olhos tirados, sapatos engraxados e sua barbicha falha, de rapaz que pede a garçonete de aperitivo, por bel-prazer d’um dito filho da puta, ser. O estranho não tem pressa: em sirenes ou faróis vermelhos, ele abre o zíper da calça para pagar as dívidas da mamãe. Para-amamentar-a-mamãe. Mas não, não, o estranho não é de fato, estranho. De modo algum tenho pressa por fechar feridas em apenas lâminas do narrativo; como você e vós, não “tendes” morrer. Tendes. (Essa é boa.) “Tem-de” aquelas risadinhas num emaranhado virginal, Pisca-Pisca e seus fantasmas vários, – de já muitos dezembros partidos –, voltarem enfim, a mim. E ninguém os disse para onde vão dar. Mamãe preservou-os dos papéis de parede que descascam, já que o preço das gozadas do papai na puta que pariu interfere no tamanho de seus presentes. Mas a mamãe é uma boa mulher; o Bicho Papão não tem do que reclamar, – é só a merda do chá que é deixado esfriar. Mamãe cruza as pernas e engole suas palavras, como se engolisse a porra dos gostos mais refinados, – ao qual o papai só lambe os dedos quando ternos ocupando as cadeiras estão, mas não olhando. Mamãe se convence de tudo, até mesmo de que o Papai Noel passa pela chaminé, mas que o papai não passou pela porta dos fundos. Mamães fodem como menininhas, quietinhas e assustadas. Mas os grunhidos não são delas não, que tamanha calúnia! É o sótão. É o rato! O rato malvado, que rói os cordões pela sua – e minha – infância romper: mas não interrompe as muitas cordas a vir de todos, saltarem.

“Eu o estrangulei com sua gravata. Saiu espuma de sua boca, e ele ficou azul feito lagosta crua.”

“O legista disse que fora suicídio, e 75 meninos respiraram aliviados.”

O estranho observa ao longe as boas meninas pularem corda, “doze, treze, quatorze... Três, dois, um... Sua vez”, quiçá à descoberta da cor de suas calcinhas... O estranho que hora ou outra, abre o zíper da calça.
Tudo, tudo, minha cara, acaba empacotando nos sótãos.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

"O que está escrito em Braille sobre minha pele."





CUIDADO, CONTEÚDO FRÁGIL

 Você pode perceber; pela brecha da porta que se debate a ter de ficarmos a sós, e pelos cacos cá e ali pós-crise no piso encerado, e as muitas sondas rompidas – e eu prossigo com o romper de todas –, e as seringas a violentar meu pulso já de partida, e os arranhares no meu quadril, e as bolhas nos meus lábios; que definitivamente, eu não sou a garota mais confiável para se deixar objetos cortantes ao alcance, e que bem, a morte é pra lá de seus atrasos quando se marca hora, e a vida é virtude apenas de seus queridinhos. Oh, e às vezes venho a parecer que estou tremendo, – mas meu caro, é só a febre –. E parece que estou sonâmbula, – mas é apenas o ópio vindo a certificar-se do ronco do doutor. Se estivesse mais frio eu poderia derreter. Se eu fosse uma uva-passa eu agiria de acordo com a minha idade. Se eu fosse de bem, (ainda assim), eu não acho que você acreditaria em mim, não-é-o-jeito-que-eu-deveria-ser; é só o jeito que a operação tem me resolvido.

 Você pode perceber; pelo estado do meu quarto, – e do meu quadro –, que eles me liberaram muito, muito cedo. E os remédios que consumi, vieram alguns anos tarde demais. E eu tenho algumas questões a tratar... Como traçar-me de ti, fazendo de faz-de-conta que, possuo uma alma para além dessa superfície turva. Possuída. Então meça-me a profundidade por si só, com um par de pés, e estarei logo a te convencer do quanto isso foi; acidentalmente de propósito.


A ALEGRIA JÁ NÃO MAIS TEM ENDEREÇO
ME TRANCAM NA GAIOLA, E ESPERAM QUE EU CANTE COMO ANTES

 E não é sempre do eufemismo lidar com meu eu prosaico; esse lirismo é só um pensativo à parte, um plágio re-editado, assomado de porra alguma a apurar o nosso orgasmo. Mas eu posso abrir as pernas do seu século para me caber, – apenas em só uma rarefeita ocasião. Já que, fui retirada antes da dor do parto calcificar meus ossos...

 Você pode perceber; pela vermelhidão nos meus olhos, e os hematomas nas minhas coxas, e os nós no meu cabelo, e o ralo ineficiente, e pela banheira cheia de moscas, que eu não estou certa de forma alguma. E lá vou eu de novo, simulando que vou cair... Não chame os médicos! Essa cena é mais um improviso de ensaios. Já já num coro eles vão te coadjuvar: "Apenas-a-deixe-se-espatifar-e-arrematar-seus-votos-matrimoniais-com-a-maca. A atenção só a encoraja..."

 Você pode perceber; pelo gesso envolto no embalsamar da minha carne dormente, que eu lamento por ter perguntado... E ainda que mais; posso ser contagiosa, portanto não toque! Você vai começar a acreditar que é imune à gravidade e tantos desses vários... E não me molhe! Ou senão os curativos vão se desprender.

DESCANSE EM PAZ
JAMAIS SERÁ ESQU

 E você pode perceber; pelo féretro de mobília, que o meu estado atual é crítico. E no tempo que leva para o ‘bip, bip bip’ ser interrompido, posso inventar-te quantas desculpas convir seu descuido, como: "Por favor, perdoe-me pelo não-me-lembro-o quê. É só o efeito dos medicamentos a me cometer." E eu não necessariamente acredito que exista cura de mim própria... Então eu posso entrar pro seu século, – mas apenas como uma hóspede terminal. E no fim, sou apenas um bocado imoral; eu fui precariamente removida numa cesárea! Então doe-me lágrimas a envernizar meus olhos, para que talvez assim, eu enxergue a vida à seu modo.




Baseado na composição Girl Anachronism, de Dresden Dolls.  

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Espelhos Não Mentem, Pt. 2



Endereço: “Siga os tijolos amarelos.”

Carta nº 2. 04h3min. Não lembro-me. AM.
1 de dezembro. 1982. 0ºC.


Caro doutor,


 Me vem a impressão de muita carta ter se perdido, partido, chegado, chegado cedo, cedo demais. Tenho a impressão que muitos olhos se demoraram a desgarrar-se delas, talvez por não se ter entendido, talvez por não se querer entender, ou, talvez, por esses olhos serem condenados; olhos de cartas... Tenho a impressão de muitos ex-pacientes, e muitas sopas de pepino ainda sendo preparadas. Tenho a impressão de muitas impressões mal feitas, e muitos exames refeitos. Tenho a impressão de padeiros comprando pães e psicólogas fazendo psicanálise e pacientes de estetoscópio. Tenho a impressão de macas contarem minhas costelas e outras contarem as horas para a hora de contá-las. Tenho a impressão de óculos de grau contando vantagens, e de máquinas de costura terem confundido minhas costas com alguma encomenda, pela baixa auto-estima de todas as máquinas. Mas, tenho, sobretudo, a impressão de não ter algodões em meu nariz e talco em minhas marcas. E quanto às rosas artificiais? Em minhas mãos só torcem canetinhas hidrocor, que fahalm tant0 qunto minha cooordnaçõ6. Meu nome deveria jazer na calçada da fama de algum memorial-de-ninguém-conservado, com uma de minhas mais enrugadas fotografias engatinháveis, para que me reconheçam só quando irreconhecível! Morrer me era planejamento de vida, doutor... Dos mortos nenhum vivo guarda mágoas... Por que da morte não me perdoar, então? O que houve de errado enquanto a anestesia me embalava? O que mais houve de errado? O que mais houve de errado para mais um erro se deixar pra ser ouvido depois? Foi o pêssego que aprendeu a delinear os lábios por si só por dicas de revistas que pregam “vaidade ser felicidade”? (Peça-a para me fazer uma visita, um dia desses. Mas que seja antes dos analgésicos e antes das moscas. E que, se possível, fique para outro dia...) Ou foi sua esposa que esqueceu o número do seu cartão de crédito, e assim engraxou o sapato do jardineiro? Ele não checou as moedas após ela dar as costas com as costas das mãos? Dê-me os diagnósticos do mundo: O que houve de errado? O senhor fez aulas de caligrafia, ou alguém as fez para compreender a sua? Levantou finalmente os olhos do paletó, numa consulta de pacientes estranhamente amarelados? Ou acertou inconvenientemente uma operação? Diga-me, por favor, o que mais poderia dar errado, doutor? Quando os espelhos, agora, me mentem...




Respeitosamente,


Seu paciente... 
Integral.